[ESPECIAL OSCAR 2013] “O Mestre”

“O Mestre é um filme de ataque, a todos.”

por João Lucas Almeida

Indicado a 3 Oscars: Melhor Ator, Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Atriz Coadjuvante

images (1)O Mestre é um filme de ataque, a todos. Nele, a tranquilidade é algo tão frágil quanto um preconceito ou um erro de raciocínio; justamente por isso, aliás. Numa atmosfera onde a irracionalidade exerce papel-chave para todos os envolvidos, não são raros o conflito e a explosão. É assim que o filme funciona, confrontando e explodindo, até deixar claro o quanto a alienação e sua pregação são abomináveis.

Com isso, o filme, dirigido e roteirizado por Paul Thomas Anderson (Sangue Negro), revela uma narrativa cuidadosa quanto à progressão dos interesses de seus personagens. Nele, Joaquin Phoenix interpreta Freddie Queel, um combatente da Segunda Guerra Mundial que ao voltar para os Estados Unidos, nervoso e traumatizado, não consegue restabelecer-se à “vida padrão” americana. Anos depois, já alcoólatra e só, Freddie foge de seus conflitos e encontra em Lancaster Dodd (Phillip Seymour Hoffman), o Mestre, e em seu método de “sarar as feridas do tempo e das vidas passadas”, a Causa, uma esperança de conforto. Ele é acolhido pela família de Dodd e acompanha a execução e a popularização da Causa, que acaba se revelando bem similar às doutrinações de seitas religiosas. Então, claramente alienado, passa a conviver com o fanatismo e suas consequências.  Assim como com os conflitos com os membros da família, como Peggy (Amy Adams), a esposa e, talvez, a mais fanática pelo método.

A partir daí, Freddie é cada vez mais exposto à realidade da alienação e da manipulação. Momento propício para Anderson apresentar os movimentos de Lancaster e do protagonista separadamente, mas sempre causando resposta ao outro; por exemplo, a maneira como Freddie passa a negar diversos aspectos de seu comportamento anterior ao seu contato com o Mestre. A química entre os dois é impressionante. Eles se temem e se respeitam, mesmo que indignamente, como nenhum dos outros personagens. Ilustrando, assim, uma interessante relação baseada na liderança e no fanatismo.

Afinal, tais elementos são recorrentes em outros aspectos da obra. Percebe-se como os ótimos aspectos técnicos do filme utilizam-se especialmente das cores azul e vermelho, cores que não só funcionam para simbolizar, nos seguidores da Causa, o poder e a alienação, mas também remetem à bandeira americana, um outro símbolo de autoridade, liderança e, muitas vezes,  de fanatismo

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Grande parte do impacto do filme está ligada à artificialidade proposital dos personagens e dos cenários, sempre embalados por uma trilha sonora destoante. Momentos como os súbitos ataques de fúria de Lancaster, a impassível masturbação de Peggy em seu marido e o exagerado “método de cura” empenhado em Freddy na segunda metade do filme são todos exemplos da contínua busca de poder dos principais membros da Causa, os quais nunca parecem sinceros quanto suas intenções. Nessa atmosfera é onde surgem as grandes proezas das atuações. Phoenix, ao apresentar um Freddie nervoso e traumatizado, surge constante e, mesmo diante de muitas mudanças, consegue mostrar as sequelas de abalos passados. É notável, desde os minutos iniciais, a maneira de Phoenix demonstrar a natureza insegura e tensa de seu personagem com uma especial atenção a pequenos detalhes como, por exemplo, sua postura, suas risadas atrasadas e suas reações lentas e contidas, exceto nas explosivas; seu timing é invejável. Phillip Seymour Hoffman mostra-se com um extremo controle de suas expressões e de suas progressões, especialmente nas já mencionadas fúrias. Amy Adams aparece fria, interesseira e inquieta, com olhares críticos capazes de amedrontar qualquer um.

O filme finaliza com um ótimo estudo de personagem mostrando a libertação de Freddie, que não perfeita, mas é bem melhor do que a realidade da alienação. Ele encontra em si o próprio meio de encontrar conforto. Após não conseguir combater seus traumas e deixar-se levar pelo primeiro objeto exterior a “apontar a ferida”, o protagonista se auto-afirma e consolida o combate adiante até desmontar-se por completo para construir-se melhor; ação inerente ao humano, diferente da falsa “cura” pregada por várias doutrinas tão picaretas quanto à de Lancaster.

10/10

O Mestre (The Master, 2012)

                                                                                     Dirigido por: Paul Thomas Anderson.

                                                                                      Roteiro por: Paul Thomas Anderson.

                         Elenco: Joaquin Phoenix, Phillip Seymour Hoffman, Amy Adams, Laura Dern.

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